Quando eu era criança sempre quis mudar, e com o tempo eu fui percebendo que eu queria ser qualquer coisa menos eu.
Tudo a minha volta me doía e me machucava muito, desde palavras sobre o meu corpo até ações que me faziam sentir menor do que eu sou.
Na adolescência, tudo isso piorou em uma grande proporção, e mesmo que agora eu já recebia palavras de conforto, eu sempre me lembrava das que um dia me incomodaram e me perguntava “por que?”. Ao final do dia o “por que?” se completava em “por que eu sou assim?”
As mágoas do passado viraram sombras que me atormentavam constantemente e me faziam perder tempo do presente para desmistificar ações que eu já deveria ter apagado da memória. Palavras que eu não queria ter escutado ressoavam em minha mente como um eco, como uma segunda voz querendo controle.
No início da vida adulta muitas preocupações quanto à minha identidade me pegaram desprevenida, e mesmo que há quem se gabe pela carga de idade, é nos primeiros momentos que percebemos o quão despreparados estamos para a bagunça que chamam de sociedade. Aqui conheci um inimigo que me faz temer o futuro, e a vergonha do que fui agora aperta as mãos do medo do que poderia me restar. Terceiras e quartas vozes ainda me assombram, me mostrando diferentes perspectivas de fracasso.
Ainda com algumas marcas, hoje posso dizer que nunca precisei de nenhum personagem heroico e que no final das contas está tudo bem ser o que não é de agrado do outro e que está tudo bem não ligar. Ninguém é perfeito, e o perfeito mesmo está no espírito de liberdade que temos de não se justificar, assim economizamos tempo com coisas que nos complementam e não nos corrói fisicamente e psicologicamente.
